quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Acredito


que o pior já passou e que o novo ano que aí se avizinha vai trazer tanto para mim como para todos muita saúde, pois com ela tudo se faz e tudo se consegue.

Desejo muita felicidade e essencialmente muita paz. Actualmente vive-se em constantes "guerrinhas" que não trazem nada de novo e nada de bom para ninguém. Muito pelo contrário, só prejudicam o nosso bem estar físico e emocional.

Durante esta minha etapa muitas vezes foram as vezes em que caí e caí dura! Muitas foram as vezes que me estava a erguer e levei rasteiras... Mas nunca desisti e não desisto! Recuso-me! Se há dias em que levantar-me da cama é um sacrifício, há outros em que é uma bênção.

O passado já passou e com ele fica a aprendizagem de que nada somos e nada temos. Que tudo é um "abre olhos" e é tudo passageiro. Também aprendi que fomos feitos para suportar tudo. Que nada acontece ao acaso! Que nada é impossível e que milagres existem!

FELIZ ANO NOVO repleto de muitos sonhos, objectivos, paz, amor e muita, muita saúde.

"Enquanto há vida, há esperança!"

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Nova Cirurgia

Recuperei da gastrectomia total (pelo que me dizem) muito rapidamente. Foi difícil, mas não impossível. Depois de algum tempo de baixa médica resolvi retomar o meu trabalho e voltar à minha vida normal. Estava farta e cansada de casa.

O meu pensamento estava constantemente no meu tipo de alimentação, se tudo o que comia era bom ou mau e se me trazia consequências. Estava a ficar maluca sempre a pensar no mesmo. Até que Deus fez-me perceber que o que tem de acontecer, acontece e não há nada que possamos fazer para contrariar os seus desígnios:

Passado algum tempo após retomar o meu trabalho, senti um desconforto e mais tarde uma dor do meu lado esquerdo da barriga. A minha alimentação era (e é) a melhor, levava uma vida calma e sossegada, andava super feliz porque finalmente e passados 2 anos pode voltar a ir à praia, ia à casa de banho normalmente e sentia-me lindamente. A dor intensificou e liguei à minha médica que me disse para tomar um Bem-u-rom e no caso de não passar para ir ao hospital. E foi o que fiz! Estive um dia inteiro no hospital de Leiria. Fui transferida para o Hospital dos Covões onde tive internada uma semana a fazer medicação para uma inflamação no intestino. A dor melhorava mas persistia. Ao fim de uma semana, deram-me alta. Neste período a minha médica encontrava-se de férias mas sempre em contacto comigo. Foi espectacular! (Como sempre!)

Regressei a casa e passados 10 dias a dor intensificou-se tanto que tive de chamar o 112. Pensava que morria! Não tinha posição de maneira nenhuma, não havia nada que me aliviasse as dores. Toda eu tremia e transpirava, a minha cor devia ser branca (a julgar pela cara do meu anjinho e dos meus pais onde via terror). Fui para o hospital de Leiria onde passei a noite toda em grande sofrimento, com frio, tremores e vómitos. Não estava em mim! Só rezava para que as dores passassem… Mas não passaram! Fui transferida mais uma vez para o Hospital dos Covões com o diagnóstico de linfoma. Estavam todos parvos!!! Ainda tremi 5 minutos, mas depois dei por mim a ralhar comigo própria: “Como é que pode ser oh minha estúpida! Já tiveste essa merda e nunca tiveste estes sintomas! Era bom que fosse assim! Tem calma pah! Não é! Não é! Não é!”

E não foi! Quando a minha médica chegou ao pé de mim na urgência do hospital parecia que estava a dançar o “rebolation”. O chão do hospital era todo meu. Já nem sabia como estar com tanta dor. Deitaram-me numa maca e mal vi a Dr.ª Licínia, estava de rabo para o ar com a cabeça enfiada entre os braços. A voz dela estava trémula… Só lhe dizia que já não aguentava mais! Deram-me uma injecção, daquelas potentes em que uma pessoa sente-se a voar, fizeram-me uma TAC depois uma eco e fui para o bloco operatório novamente. Tive um espessamento numa ança do intestino e tinha de ser operada imediatamente. Foi-me diagnosticado na hora certa! Mais tarde e…

Correu tudo bem! Voltei à cirurgia das mulheres onde todo o pessoal ficou super admirado. Estive internada alguns dias e psicologicamente foi muito, muito difícil. Não estava a fazer conta e não estava preparada. Muitas foram as noites em que chorei naquela cama de hospital. Não era justo!


                                            (imagem tirada da net)

Obrigada a todos os que tiveram comigo, a todos os que me apoiaram neste momento tão difícil e o meu muito, muito obrigada àquelas pessoas que estiveram sempre do meu lado!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

FELIZ NATAL


O Natal tem muitos significados.

Para mim o Natal é o momento de partilha, de encontro e de amor. Natal para mim é todos os dias!

O consumismo e a troca de prendas só vem desvirtuar o sentido do Natal. Numa era como a nossa em que (a maioria das pessoas) podem comprar diariamente o que precisam ou gostam, que todos os dias são presenteadas e se presenteiam, não vejo o sentido da troca de prendas. Vejo sim a necessidade diária de ajudar os mais necessitados, os que mais precisam que infelizmente cada vez são mais. O estado actual do nosso país, da nossa economia faz com que cada vez mais haja mais desemprego, mais insegurança e mais dificuldades no seio das famílias.

No entanto e contrariamente ao que era esperado (pelo menos por mim), este ano foram gastos quase 800 milhões de euros em compras através de multibanco e foram levantados cerca de 600 milhões de euros... (ver notícia completa aqui)É caso para se perguntar: "Onde está a crise?"

Este ano e porque estou viva e porque sim, vou festejar o Natal em minha casa com a minha família! Acreditem que é o melhor presente que posso ter!

Hoje também é um dia especial para o meu mano que faz aninhos... e como tal vamos festejar o seu aniversário. Acima de tudo espero divertir-me muito esta noite e espero que todos se divirtam!

Desejo a todos um Feliz e Santo Natal na companhia dos que mais amam!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Viver a Vida

Alguém se lembra desta telenovela brasileira? Eu lembro e relembro e jamais irei esquecer! A novela foi emitida na altura certa da minha vida, cada episódio era uma aprendizagem e uma verdadeira lição de vida. Tanto sofrimento neste mundo, tantas pessoas com tantas limitações que tiveram e têm força para ultrapassar todos os obstáculos…

Quem era eu para me fazer de coitadinha, de vítima perante os factos que a vida me apresentava.

A novela contava a história de Luciana, uma rapariga que ambicionava ser modelo profissional, muito mimada e muito embirrante que viu o seu sonho ser interrompido num acidente de carro. Ficou tetraplégica e teve de lutar primeiro para aceitar o seu novo estado de saúde, segundo pela sua vida e reabilitação e terceiro por ter uma vida “normal” com as suas limitações.

No final de cada episódio era apresentado um caso real e verídico de pessoas que conseguiram ultrapassar, superar um ou vários obstáculos e de como se vive a vida, ou melhor, como se luta pela vida com uma força que não imaginavam possuir e acabam por encontrar uma solução.

Assim, como eu iria encontrar a solução para a minha!


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Gastrectomia Total


Foi-me retirado o estômago na totalidade, ou seja, ligaram-me o esófago directamente ao intestino delgado como está representado na imagem em cima.

A principal função do estômago é dar continuidade à digestão, iniciada na boca e finalizada no intestino delgado; funciona também como um órgão de armazenamento, permitindo que a ingestão de uma refeição possa ser feita apenas duas ou três vezes por dia, se isto não fosse possível essa ingestão teria de ser feita a cada 20 minutos. É no intestino delgado que ocorre a digestão e absorção de nutrientes, mas quando os alimentos aí chegam devem estar bem triturados e uma vez que não tenho estômago tenho de o fazer com a boca, com os dentes.

Durante os primeiros dias após a cirurgia, fui alimentada por via endovenosa, ou seja, através de uma veia com um liquido pastoso branco que tem tudo o que é essencial.

Eu comecei a ingerir líquidos após o 10.º dia após a cirurgia. Nos últimos dias que estive internada tive o apoio da Dr.ª Anabela, nutricionista no hospital que me deu todas as dicas e conselhos essenciais a uma vida e alimentação normal. Fiquei muito contente pois fiquei a saber que o que tinha de fazer era tudo o que já fazia. Alimentação cuidada e saudável, evitar os doces e principalmente poder comer de tudo. Nada me era proibido ao contrário do que me diziam.

Como me foi removido todo o estômago, não consigo absorver a vitamina B12, necessária para ter sangue e nervos saudáveis e, como tal, preciso de levar injecções desta vitamina.

As dificuldades que tive e que ainda tenho, são na sua maioria temporárias. Tenho consciência que o bem ou mal que fizer (neste caso ingerir) serei eu própria a sofrer as consequências. A minha maior dificuldade é a tolerância ao leite e não posso (de todo) ingerir alimentos muito condimentados, especialmente alimentos com pimenta! Tento seguir uma alimentação baseada em cozidos e grelhados mas não evito de todo os assados, os fritos, os guisados, enfim, tudo! Porque tudo faz falta ao organismo. Nem sempre nem nunca e vou ter de me habituar a todo o tipo de alimentos. O segredo é mesmo a variedade e comer (sem falta) de 2 em 2 horas. Se não o fizer fico zonza e toda a tremer. Nem sempre dá jeito, mas é o meu novo modo de vida e é impensável não o fazer.

Comer devagar é outro cuidado que tenho de ter! Náuseas, diarreia e tonturas, depois de comer, são alguns dos sintomas que tenho quando os alimentos e os líquidos chegam ao intestino delgado muito depressa. É uma má disposição que só quero cama e sossego!

Só recentemente descobri o que é o síndrome de dumping tão falado em pessoas como eu, gastrectomizadas. Começa com (tipo) uma dor de estômago, má disposição, muito frio, tremores e vómitos. É horrível pois não consigo ter controlo sobre o meu próprio corpo. Alimentos que contenham grande quantidade de açúcar podem piorar estes sintomas.

Comer pequenas refeições, fraccionadas, durante o dia, evitar alimentos que contenham açúcar, e comer alimentos ricos em proteínas. Para poder reduzir a quantidade de fluidos que entram no intestino delgado, aconselha-se a não se ingerir líquidos durante as refeições o que para mim é bastante difícil pois é justamente nesta altura que tenho muita sede.

A minha vida neste momento é feita em função da minha alimentação. Tudo gira à volta dela. Todos os dias preparo o meu almoço, lanches (meio da manhã e  meio da tarde) e jantar. Todos os dias sou responsável por mim própria! Posso controlar tudo excepto a altura em que estou menstruada...

Vivo bem! Vivo um dia de cada vez e tento que seja o melhor possível. Nem sempre é fácil e muitas vezes desespero e choro (sou humana!) mas nestas alturas Deus dá-me pequenos sinais em que me mostra que tudo vale a pena, que a vida vale a pena.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

13



Foi o número da minha cama no hospital. Número de Nossa Senhora de Fátima. Número que interiorizei como o regresso a minha casa, à minha vida.

Durante o tempo que estive internada proibi as visitas no hospital. Proibi que me fossem ver. Não porque não gostasse de receber e de ver pessoas que gosto, mas porque não me sentia com forças para as receber. Tinha medo dos olhares, das reacções, dos diálogos...

Passei a maioria dos dias e noites com uma sonda enfiada que me fez perder muitas noites de sono, que me fez chorar muitas lágrimas e me fez desesperar (como nunca…). A sonda tinha uma rosca bem no meio da minha garganta, que me magoava e feria cada vez que falava ou me mexesse. Passei muito tempo sempre deitada na mesma posição, de barriga para cima, e depois de algum tempo já me doíam as costas e as pernas. Não podia mudar a posição do pescoço, ao mínimo movimento a sonda magoava mais e mais…

Um dia, a minha querida médica entrou no quarto e perguntou-me: “Andreia, está tudo bem?” devia estar com uma cara de desespero… Ao qual eu respondi quase a chorar:” Não! Estou no meu limite! Já não aguento mais esta sonda! Magoa-me muito! Por favor…”. Naquele mesmo instante, aproximou-se de mim e pediu-me para respirar bem fundo. Obedeci imediatamente e num instante senti a sonda a sair de dentro de mim. Que alívio! Que sensação de alívio! Que felicidade!

Restavam os drenos… não vou falar do episódio da retirada dos meus drenos porque estou a tentar apagar da minha memória a dor, a raiva, a revolta que senti nessa altura. Eu sempre disse que pior que a dor física é a dor da alma! Esta última custa muito, muito mais a cicatrizar! Chorei, gritei, berrei, perdi a noção de tudo! Hoje, depois de já tudo ter passado sinto que foi tudo uma GRANDE aprendizagem. 

Por vezes dou por mim a queixar-me de pequenas coisas que à vista do que já passei não são NADA! NADA mesmo! E não aguento ouvir as pessoas a queixarem-se, a dizerem palavrões, a revoltarem-se, a magoarem, a serem egoístas… Sinto-me sem paciência e intolerante.

O meu maior medo (por incrível que pareça) foi pensar que nunca mais iria conseguir levantar-me daquela cama. Sempre que tentava, a cabeça andava à roda, parecia que andava numa montanha russa… Tanto tempo deitada… Devagarinho, ia levantando a cabeceira da cama, cada vez mais e mais alta de modo a habituar-me.

Quando já me senti mais ou menos preparada pedi para me levarem a tomar banho na cadeira de rodas. Tão bom sentir a água em cima de mim. Uma vez ouvi dizer que: ”é durante o banho que podemos falar com o nosso anjo da guarda. É nesta altura que ele nos ouve…” E fui o que fiz durante o tempo do banho, de me terem lavado o cabelo 2 vezes… Que saudades…

Dia 11 de Março de 2010, a sua santidade o papa estava em Portugal e depois de pedir tanto a Deus, a Nossa Senhora de Fátima, aos meus anjinhos e sem estar à espera, tive alta! Podia finalmente ir para casa, para a minha casa…

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sinais e sentimentos…


Não sei o dia em que fui internada, nem sei o dia em que fui operada.

Relembro e recordo o dia em que fui internada, no carinho, na atenção que a minha querida médica me deu e como isso me fez sentir bem e em paz e como foi difícil deixar os meus pais e vê-los através dos vidros da porta que me levava até ao quarto onde iria ficar. No entanto e com o coração apertado despedi-me deles a sorrir com a certeza que tudo iria correr bem.

O meu anjinho acompanhou-me até ao quarto e despedir-me dele foi a parte mais difícil… muito mais difícil! Saber que iria ficar ali fechada, separada dele não sei por quanto tempo… As dúvidas e as perguntas pairavam na minha cabeça. Será que iria voltar a vê-lo? Será que iria esperar por mim? Já perdi tanto nesta vida… Iria perder o meu anjinho? Nessa altura senti uma dor e tristeza profunda e não consegui conter as lágrimas… Que saudades eu tinha de ti amor, que falta tu me fazias… Por ti e por mim tinha de ser forte! Pela minha vida tinha de conseguir e comecei a rezar…

Nessa altura entrou uma senhora no quarto que dirigiu-se a mim. Eu conhecia-a mas não sabia de onde, fazia um esforço tão grande para me lembrar… A senhora começou a fazer-me perguntas e eu respondia-lhe. Até que me lembrei! A D.ª Maria tinha realizado uma endoscopia alta antes de mim e era desse exame que me lembrava dela porque se tinha sentido mal e o marido foi chamado para a ir buscar à sala de exames. Tinha sido submetida a uma gastrectomia total (remoção total do estômago) pela Dr.ª Licínia à duas semanas atrás e estava a correr tudo bem.

Foi um sinal de Deus que me encheu de fé, esperança e alegria. Não era o primeiro sinal de Deus que recebia desde que comecei esta jornada e eram estes pequenos sinais que me garantiam, davam a certeza de que tudo iria correr bem.

Recordo de tudo na perfeição! A preparação para a cirurgia, a primeira noite, a entrada no bloco operatório, acordar na sala do recobro com a voz de um anjo, ver os meus pais e o meu anjinho quando fui para o quarto, quando acordei e tive a noção como estava… Não sentia dores nenhumas, apenas desconforto. Não me assustei com a sonda, com os drenos, com nada… Sentia-me calma, serena e o que mais desejava era ver os meus pais (os meus verdadeiros heróis) e o meu namorado (que tanto amo). Depois de os ver a entrar pela porta do quarto, o meu mundo voltou a iluminar e tudo fazia sentido (outra vez)! A vida fazia sentido!

Na primeira visita que me fizeram em primeiro entrou a minha mãe, depois o meu anjinho e por ultimo o meu pai… SEM BIGODE! Não me consegui conter e desatei a rir, os pontos da minha barriga iam rebentando todos. Lol! Estava o máximo e foi a maior surpresa que tive em toda a minha vida (a única e ultima vez que o meu pai cortou o bigode foi quando o Sporting foi campeão... já lá vai algum tempito…) ADOREI, AMEI! O meu pai rejuvenesceu, já lhe conseguia ver os lábios e o seu lindo sorriso e esse gesto deu-me tanta alegria… OBRIGADA PAI!